terça-feira, 13 de março de 2007

Tem a palavra o Treinador: San Payo Araújo

Treinar capacidades coordenativas? Sempre! (I)
O exemplo do Nelson Santos


É com todo o prazer que eu colaboro no blog do CNT Paredes. Entre os vários temas que o amigo Rui Alves me propôs, resolvi pegar no tema capacidades coordenativas e fundamentos contando uma pequena história.
Decorria a época de 1997/98, quando treinei pela última vez seniores masculinos. Foi a equipa do Atlético, que militava na 1ª Divisão, actual Proliga. Nessa época foi-me apresentado o Nelson Santos, 29 anos, 2 metros de altura, excelente compleição física e grandes capacidades atléticas, nomeadamente a impulsão, tão característica dos jogadores de origem africana.
Com grande espírito de humor o Nelson, porque nasceu em Alcântara costumava dizer que o único verdadeiro atlético era ele. A nível de fundamentos o Nelson era bastante frágil. Como ele costumava dizer: “Se fosse andebol eu só entrava para defender.” Embora lesse bem o jogo, dentro de campo o Nelson limitava-se a ganhar bem a posição para os ressaltos, dar uns bloqueios, uns tempos de ajuda e de vez em quando, se “necessário” uns “body-checks”.
Como treinador, mesmo os seniores, acredito que há sempre necessidade de treinar capacidades coordenativas e como tal, dependendo das alturas competitivas, grande parte do treino passou pelos fundamentos, drible 1x1 campo inteiro, jogo 1x1, várias formas de lançamento, exercícios dinâmicos envolvendo o passe, o drible etc. Quando chegava aos exercícios que envolviam manejo de bola e fundamentos, em que o Nelson se sentia desconfortável, ele pedia-me para não participar, ao qual eu respondi, que no treino ele fazia os exercícios que eu entendia que ele devia fazer, ou seja todos.
Com o decorrer da época e à medida em que se ia sentido mais confiante e mais solto, eu vi num jogo, já perto do fim da época, e a contar para a extinta Taça da Federação, o Nelson ganhar um ressalto na tabela defensiva, e com a sua mão esquerda, ele é canhoto, fazer um “costa a costa” sempre em drible. Em abono da verdade às vezes o drible não era muito controlado, era mais o Nelson que ia atrás da bola, mas perto do cesto lá conseguiu agarrar a bola e para delírio de toda a equipa fazer um lançamento da passada e marcar dois pontos. O Luis Manso, um dos bases da equipa nesse ano comentou, com o seu espírito de humor, qualquer coisa como, queres ver que temos mais um base na equipa.
No ano seguinte como aceitei ser Director Técnico na ABLisboa, deixei de treinar os seniores do Atlético, mas não deixei de acompanhar alguns jogos do Nelson, que estava tecnicamente cada vez mais forte e participativo nas acções ofensivas do jogo, retirando deste, como mais tarde me confessou, muito mais prazer.
Esta pequena história apenas reforça uma convicção profunda, embora haja uma idade privilegiada para desenvolvermos as capacidades coordenativas, estas continuam, com espaço para o seu desenvolvimento, pelo que há pergunta; Devemos treinar capacidades coordenativas e os fundamentos? Respondo apenas com uma palavra: SEMPRE.

A. San Payo Araújo

1 comentário:

Anónimo disse...

Grande San Payo, sempre ao melhor nivel. Um abraço